domingo, 27 de outubro de 2019

Cremação ou Sepultamento. Qual a melhor opção?

Aos poucos, o cemitério deixa de ser o único destino dos mortos no Brasil. Até meados dos anos de 1990, o país contava com um único crematório — o Crematório da Vila Alpina, em São Paulo. Hoje, já se contam 34, em todas as regiões. Outros 12 crematórios deverão ficar prontos nos próximos meses. Nunca se havia ouvido falar de tantas personalidades cremadas no país — o banqueiro Olavo Setúbal (em 2008), o dramaturgo Augusto Boal (2009), o ex-vice-presidente José Alencar (2011), o ex-presidente e senador Itamar Franco (2011) e os atores Marcos Paulo (2012) e Walmor Chagas (2013). O corpo do ex-presidente e senador Itamar Franco é levado, com honras, para um crematório na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 2011 A família respeitou o desejo de Jorge Amado. Logo após sua morte, em 2001, o corpo do escritor foi cremado e as cinzas foram espalhadas no arborizado jardim de sua casa, em Salvador, à sombra de uma mangueira. Sete anos mais tarde, o mesmo destino teriam os restos mortais de sua mulher, a escritora Zélia Gattai. Cinzas A cremação é uma versão acelerada da decomposição natural. O procedimento se faz em imensos e potentes fornos a gás. A temperatura excede os 1.000 graus Celsius. O calor reduz o corpo a pó em apenas duas horas — em vez de anos, como ocorre com o cadáver enterrado na terra. Dentro do caixão, o corpo é introduzido na câmara quente. O que resta do processo não são propriamente cinzas. Trata-se de algo que mais se assemelha a grãos grossos de areia. Ossos mais resistentes, como a rótula (o osso do joelho), saem quase inteiros do forno, ligeiramente quebradiços, e precisam ser triturados. A família recebe uma urna com algo em torno de 1,5 quilo de “cinzas”. Há uma série de razões para que os brasileiros aos poucos optem pela cremação, e não pelo tradicional enterro no cemitério. 

A crença religiosa ainda é um empecilho pois algumas religiões ainda proíbem tal prática, entre as principais religiões, o islamismo e o judaísmo não permitem a cremação. O espiritismo apenas pede que se aguardem de dois a três dias — há espíritos que precisam desse tempo para desencarna, o catolicismo também não via com bons olhos, no entanto, depois das reformulações feitas pelo papa João Paulo II ( no início dos anos 60, quando o Concílio Vaticano II anunciou que os fiéis não precisariam mais seguir à risca a oração conhecida como Credo, que diz “creio (…) na ressurreição da carne”. Para os católicos contemporâneos, o que ressuscita é a alma, e não o corpo), o número de adeptos para a prática aumentou.  No hinduísmo e no budismo, predominantes em boa parte da Ásia, a cremação é um ritual obrigatório para que a alma se liberte do corpo. 
Outro fator importante é a preocupação ambiental, a o processo de cremação impede a formação de um liquido proveniente do corpo humano chamado necrochorume que, de acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS) em publicações realizadas no ano de 1998 enfatizou que os cemitérios viriam a ser uma grande fonte de poluição, podendo ainda causar impactos ambientais no solo e lençol freático.
Esses impactos estariam relacionados com a liberação de substâncias orgânicas e inorgânicas e micro-organismos patogênicos. Além disso, a dispersão de cinzas não oferece o risco de contaminar o lençol freático, como ocorre com o sepultamento de cadáveres. Na cremação, os gases são tratados de modo a não poluir o ar e os fornos crematório tem emissão de CO e O2 reduzidas, possuindo a taxa de 70% abaixo do permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Outro aspecto que conta a favor da cremação é o fato de não ocupar novos terrenos — em algumas ­capitais, já há cemitérios lotados. A disseminação dos crematórios é mais um passo numa mudança de comportamento social iniciada décadas atrás. 
Antes algo público, a morte hoje é cada vez mais privada, quase imperceptível para quem vê de fora. Já não se morre em casa, rodeado de familiares e amigos, mas sim no isolamento do hospital. Os velórios deixam de ser feitos em casa, levados para o cemitério ou a capela do hospital — muitas vezes, simplesmente não se faz velório. Os próprios túmulos ficam discretos, sem capelas e estátuas sacras em tamanho real. Por fim, ninguém mais é compelido a cumprir aqueles velhos rituais do luto fechado e do meio-luto. — Hoje nós nos comportamos como se ignorássemos a morte, como se quiséssemos afastá-la de nós. Parece que significa fracasso. Com a cremação, isso muda. Ao escolher entre o sepultamento e a cremação, a pessoa está pensando na morte, está encarando a morte. O mesmo vale para os familiares quando se veem envolvidos na discussão. É uma mudança de comportamento importante. A morte deixa de ser um tabu — explica Maria Helena Franco, psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o Luto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Lei superficial Apesar do crescimento dos últimos anos, a cremação tem um longo caminho a percorrer no Brasil. Hoje, 98,5% dos mortos são sepultados e só 1,5% é cremado. Como comparação, os EUA cremam 37%. O Japão, nada menos que 99,9%. A cremação, por si, só ainda não é um negócio lucrativo no Brasil. É por isso que os crematórios sempre fazem parte de um cemitério. A tendência é mudar. Antes, os fornos ­precisavam ser importados. Hoje, já há fabricantes nacionais — diz Haroldo Felício, presidente do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil. No aspecto legal, a cremação é abordada de forma breve e superficial numa lei dos anos 70, época em que se inaugurava o primeiro crematório, em São Paulo. Os brasileiros nem sequer entendiam exatamente do que se tratava.
Cremação exige vários pré-requisitos
A escolha da cremação para os procedimentos funerários está se tornando uma opção cada vez mais frequente entre os brasileiros. Porém, apesar da popularização, a prática exige processos específicos, o que pode impedir a cremação, obrigando as famílias a realizar o sepultamento convencional.
 O procedimento se torna mais fácil quando é constatada a morte natural, que deve ser atestada por um médico legista ou por dois médicos de outras especialidades. Além disso, é preciso que a pessoa que será cremada tenha manifestado em vida o desejo pela cremação. Em muitos casos, as empresas do ramo solicitam que os familiares registrem em cartório uma escritura pública na qual afirmam que o parente optou por ser cremado.
Porém, no caso das mortes violentas, causadas por atropelamentos, ferimentos por arma de fogo ou arma branca, acidentes de trânsito, suicídios e outras situações, a cremação sé é feita se for apresentada uma autorização judicial para o procedimento, exigência prevista pela Lei dos Registros Públicos. O mesmo acontece quando a causa da morte não é definida, uma vez que todos os registros da pessoa são eliminados durante a cremação, em uma espécie de completa queima de arquivo.


Saiba mais sobre cremações em Niterói / São Gonçalo / Rio de Janeiro
www.santacasadeniteroi.com.br



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